Livro: Como os Advogados Salvaram o Mundo, de José Roberto de Castro Neves
RESENHA
Eunice Torres do Nascimento
11/19/20252 min read


O que mais me fascinou neste livro é a forma como José Roberto de Castro Neves transforma a história do direito em uma narrativa viva. Ele nos conduz por episódios marcantes da humanidade para mostrar que, muitas vezes, foram advogados, ou pessoas que desempenharam esse papel antes mesmo da profissão existir como conhecemos hoje, que impediram o colapso de sociedades inteiras.
O autor começa pela Antiguidade, lembrando que a própria ideia de justiça nasceu muito antes dos tribunais modernos, quando homens e mulheres se recusaram a aceitar que a força seria a última palavra. Ele revisita figuras como Sólon, que reorganizou Atenas para evitar uma guerra interna, e Cícero, que arriscou a própria vida para defender a república romana. Esses personagens históricos não aparecem como estátuas distantes, mas como pessoas que compreenderam que um argumento bem construído podia manter um povo unido, ou evitar sua ruína.
Ao longo do livro, relembramos também momentos decisivos já em tempos modernos: o julgamento de Nuremberg, por exemplo, que transformou crimes de guerra em responsabilidade individual; a construção das Constituições que surgiram após revoluções; ou ainda os debates que permitiram que princípios como liberdade de expressão, devido processo legal e igualdade ganhassem forma concreta. É impossível não perceber como essas conquistas, hoje tão naturais para nós, foram fruto de disputas intensas, muitas vezes travadas em pequenas salas, entre papéis, códigos e ideias.
Castro Neves escreve com leveza, humor e uma clareza pouco comum em livros sobre história do direito. A cada capítulo, ele nos lembra que a sociedade não se sustenta apenas por boas intenções, mas por estruturas jurídicas que precisam ser aperfeiçoadas continuamente. E é nesse ponto que o livro se torna tão atual: vivemos tempos em que a desinformação, a precipitação e os extremismos tentam falar mais alto do que a razão. O autor nos mostra que, em situações assim, sempre houve quem usasse a palavra para impedir o retrocesso.
Para quem gosta de história, filosofia ou simplesmente sente curiosidade sobre como o mundo se organiza, esta obra é uma porta de entrada extraordinária. Ela revela que o direito, longe de ser um labirinto burocrático, é um fio que costura civilizações. E, acima de tudo, nos lembra que defender a lógica, o diálogo e a justiça nunca foi um detalhe, foi o que manteve sociedades de pé quando tudo ao redor parecia desabar.
Um livro necessário, acessível e surpreendentemente envolvente.