Educar é transformar: reflexões para o nosso tempo

EDUCAÇÃO

Eunice Torres Nascimento

9/16/20253 min read

A história da educação nos mostra que formar cidadãos nunca foi apenas transmitir conhecimento. Sempre acreditei que educar é moldar vidas, é preparar seres humanos para viverem em sociedade. Na Grécia Antiga, a Paideia já representava essa visão integral: corpo, mente, ética e cultura sendo desenvolvidos de forma conjunta. Esse ideal, ainda que distante no tempo, continua a me inspirar na luta pelos desafios que enfrentamos hoje no Brasil.

Quando penso na realidade educacional brasileira, enxergo os avanços que tivemos, como a ampliação do acesso ao ensino e o fortalecimento de políticas públicas tão importantes. Mas também não fecho os olhos para as desigualdades profundas, tais como escolas sem infraestrutura, falta de professores em algumas áreas, desigualdade no acesso à internet e um sistema que ainda privilegia a memorização em vez da formação crítica e cidadã. Além desse cenário, preocupa-me o que dados do IBGE, de 2022, mostraram sobre a educação: cerca de 2 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos fora da escola. Essas estatísticas não são apenas números, são histórias interrompidas e sonhos adiados. Uma realidade em que a exclusão escolar mostra como a desigualdade social continua limitando o acesso a um futuro melhor.

Por outro lado, numa perspectiva otimista e contemporânea, vejo como novas concepções educacionais podem ser (e têm sido, mesmo que aos poucos) aliadas em importantes transformações. Por exemplo, a interdisciplinaridade, que rompe com a fragmentação dos conteúdos e mostra que o conhecimento é interligado; as novas tecnologias educacionais que podem transformar a sala de aula em um espaço mais democrático e acessível. Ainda assim, sei que, sem políticas públicas sólidas e investimentos justos, a tecnologia pode aumentar desigualdades em vez de reduzi-las.

À vista disso, quando penso nos rumos da educação brasileira, percebo alguns pontos que, como cidadã, considero fundamentais para avançarmos:

1.Educação integral – vejo o quanto é necessário ampliar o acesso a escolas de tempo integral, onde crianças e jovens possam aprender não apenas os conteúdos acadêmicos, mas também vivenciar cultura, esporte e formação social, sendo preparados para todas as dimensões da vida.

2.Primeira infância – também reconheço a urgência de expandir o número de creches. Os primeiros anos são decisivos para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social, mas hoje apenas 37% das crianças de 0 a 3 anos têm acesso a esse direito. É uma realidade que nos desafia a buscar soluções!

3.Inclusão socioeducativa e esportiva – acredito no poder transformador de programas que unam esporte, cultura, cidadania e educação. Eles oferecem oportunidades de aprendizado, convivência e crescimento saudável para crianças e adolescentes. Além disso, reforço a importância da participação da família e da comunidade, porque educar é responsabilidade coletiva.

4.Inclusão digital e conectividade – sei como as distâncias e os desafios da Amazônia e de outras regiões impactam a vida escolar dos jovens. É urgente garantir internet de qualidade e recursos tecnológicos para áreas isoladas, assegurando igualdade de oportunidades em todo o país.

5.Valorização do professor – nada disso será possível sem o professor. Nenhum projeto educacional se sustenta sem profissionais respeitados, formados e valorizados. É essencial que tenham salários dignos, acesso à formação continuada e boas condições de trabalho.

Esses pontos são reflexões que me movem e que considero essenciais para construirmos uma educação mais justa e transformadora no Brasil.

Assim, o desafio do nosso tempo é atualizar o espírito da educação em seu sentido mais amplo: a formação integral do ser humano. Sob essa perspectiva, a educação jamais deve ser vista como gasto, mas como investimento estratégico para o futuro. Exemplos como os da Coreia do Sul e da Finlândia demonstram que investir fortemente em educação é o caminho para transformar a sociedade — e eu acredito que o Brasil também pode trilhar essa trajetória.

Em suma, confio profundamente que a educação deve ser uma responsabilidade coletiva que começa nas ações individuais, se fortalece com o engajamento da sociedade e exige, sobretudo, o envolvimento e os investimentos concretos do Estado. É nessa direção que tenho compartilhado, cada vez mais, meu ideal de que a educação seja o instrumento capaz de reduzir desigualdades, ampliar oportunidades e construir uma sociedade verdadeiramente democrática, pois, para mim, a educação é o caminho possível para a transformação não apenas de vidas individuais, mas do destino de todo um país.