CORETO DA PRAÇA DA POLÍCIA: UM SÍMBOLO VIVO DA MEMÓRIA MANAUARA

HISTÓRIA E MEMÓRIA SOCIAL

Eunice Torres Nascimento

11/14/20252 min read

No coração de Manaus, entre o ritmo acelerado do Centro e a sombra acolhedora das árvores antigas, encontra-se a Praça Heliodoro Balbi, conhecida carinhosamente como Praça da Polícia, um dos espaços mais emblemáticos da cidade. Localizada na Avenida Sete de Setembro, ela é um dos poucos refúgios verdes da capital, onde o passado e o presente se encontram em perfeita harmonia.

O nome pelo qual é mais conhecida vem de sua história, pois por muitos anos, o espaço abrigou o Comando Geral da Polícia Militar do Amazonas, instalado no prédio vizinho — o imponente Palacete Provincial. Hoje, restaurado, o palacete abriga museus e mantém viva a vocação cultural da região. A praça, com seus bancos, chafarizes, lagoas e frondosas árvores, permanece como um ponto de encontro de moradores, artistas e turistas que buscam, em meio ao concreto, um pedaço da história manauara.

Entre seus encantos, destaca-se o coreto centenário, uma estrutura de ferro importada da Europa, adornada com vitrais e detalhes ornamentais típicos da Belle Époque. Projetado por Coriolano Durand, o coreto é descrito como um “pequeno templo grego”, com colunas de ferro fundido — algumas aproveitadas das sobras do Teatro Amazonas — e lustres que refletem a elegância do período áureo do ciclo da borracha. Seu valor vai muito além da estética. O coreto foi palco de retretas, apresentações de bandas militares e encontros culturais que marcaram gerações.

Foi também ali que movimentos artísticos e intelectuais, como o Clube da Madrugada, encontraram espaço para florescer, transformando o coreto em símbolo de resistência cultural e de expressão amazônica. Arquitetonicamente, o conjunto da praça e do coreto revela a ambição de uma Manaus que, no início do século XX, se modernizava com influências europeias, sem perder sua identidade tropical.

As imagens registradas pelo IPHAN desde a década de 1970 confirmam o valor patrimonial desse espaço, que já passou por diferentes fases de restauração e revitalização — especialmente nas décadas de 1970, 1980 e 2000 — sempre com o intuito de preservar seu papel como patrimônio vivo da cidade. Mesmo após mais de um século, o coreto continua cumprindo sua função original, ou seja, ser um ponto de encontro entre a arte, a história e o povo.

Hoje, a Praça da Polícia é mais do que um espaço de lazer. Ela representa a permanência da memória coletiva manauara e a importância de se preservar o que nos conta quem somos. Cada detalhe — dos vitrais às sombras das árvores — guarda um fragmento da identidade de Manaus.

Cuidar desse patrimônio é reconhecer que ele não pertence somente ao passado, mas ao futuro de todos que acreditam na força da cultura como elemento essencial da vida urbana. O coreto e a praça nos lembram que, para além das construções, o que realmente permanece é o sentimento de pertencimento que os espaços públicos despertam.