A Proclamação da República

Eunice Torres Nascimento

11/15/20253 min read

Da Coroa ao Povo: A História de um Brasil que Aprendeu a Escolher seu Destino

Há datas que moldam a alma de um país. O 15 de novembro de 1889 é uma delas. Nesse dia, o Brasil deixou de ser império e tornou-se uma república, um novo capítulo de sua história, nascido entre incertezas, disputas e o sonho de um povo que começava a despertar para a ideia de cidadania.

Mas, para compreender a importância desse momento, é preciso voltar no tempo.

DO DESCOBRIMENTO AO IMPÉRIO

Em 1500, quando as caravelas portuguesas chegaram às nossas costas, o Brasil nasceu sob o domínio da Coroa. Durante mais de três séculos, fomos uma colônia de Portugal, explorada economicamente e distante das decisões políticas. O poder estava nas mãos de poucos, e o povo não participava das escolhas do destino nacional.

Com a Independência do Brasil, em 1822, o país passou a ser um império, governado por Dom Pedro I e, depois, por seu filho Dom Pedro II. Foi um período de relativa estabilidade, mas também de contradições profundas: a monarquia convivia com a escravidão, a concentração de terras e a ausência de liberdade política para a maioria dos cidadãos.

O SÉCULO DAS MUDANÇAS

O final do século XIX trouxe ventos de transformação. O mundo vivia a efervescência das ideias liberais e republicanas. A Abolição da Escravidão, em 1888, marcou o fim de uma era, mas também abalou a base econômica e política que sustentava o Império.

O exército, influenciado por ideais positivistas e pelo exemplo de outras repúblicas latino-americanas, começou a questionar o papel da monarquia. Os intelectuais e a imprensa discutiam cada vez mais a necessidade de modernizar o Estado. E o povo, ainda que silencioso começava a perceber que o poder poderia, enfim, vir “de baixo”, e não mais “de cima”.

O DIA 15 DE NOVEMBRO DE 1889

Foi numa manhã abafada no Rio de Janeiro que tudo aconteceu. O marechal Deodoro da Fonseca, pressionado por oficiais e políticos republicanos, liderou o movimento que depôs Dom Pedro II.
Sem resistência armada, o imperador aceitou o exílio e embarcou com a família para a Europa, encerrando o ciclo de 67 anos de monarquia no Brasil.

Nascia a República dos Estados Unidos do Brasil, e o marechal Deodoro tornava-se o primeiro presidente provisório.

MAS O QUE MUDOU DE FATO?

Na prática, a mudança não foi imediata. O Brasil continuou sendo governado por elites, e o voto ainda era restrito a poucos. Porém, simbolicamente, aquele dia representou algo muito maior: o início de uma longa caminhada em busca de participação popular, democracia e cidadania.

Foi o momento em que o país, ainda jovem e inexperiente, ousou dizer que queria escolher seus próprios líderes. Um gesto de coragem política e maturidade histórica.

CURIOSIDADES QUE POUCOS LEMBRAM

· O hino da Proclamação da República, composto por Leopoldo Miguez, foi executado pela primeira vez ainda no dia 15 de novembro de 1889.

· A Bandeira Nacional atual foi adotada apenas quatro dias depois, em 19 de novembro. Ela manteve as cores do império, mas trocou o brasão real pelo globo estrelado com a inscrição “Ordem e Progresso”.

· Dom Pedro II, ao ser informado da queda, respondeu com serenidade: “Se assim o querem, digam ao povo que me deixem partir. Eu lhes desejo felicidade.”

· E, curiosamente, muitos brasileiros só ficaram sabendo da mudança de regime dias depois a notícia se espalhou lentamente, por telégrafos e jornais impressos.

POR QUE O 15 DE NOVEMBRO AINDA IMPORTA

Mais de um século depois, a Proclamação da República continua sendo um marco de renovação.
Ela nos convida a lembrar que a liberdade e a democracia não são heranças permanentes, são conquistas diárias, que exigem responsabilidade, consciência e diálogo.

O Brasil de hoje, com todos os seus desafios, ainda carrega o mesmo espírito daquele 15 de novembro: o de um povo que, entre erros e acertos, continua acreditando que pode construir um futuro melhor, com suas próprias mãos.